sexta-feira, 3 de agosto de 2012

No Embalo da Música Brega

A partir de hoje, entra em cartaz em várias capitais brasileiras (incluindo Aracaju), o documentário “Vou Rifar Meu Coração” da diretora Ana Rieper. O filme rodado, parcialmente, em Sergipe, convida-nos a conhecer histórias de amor bem peculiares, de anônimos que têm na música romântica ou brega, o combustível para alimentar suas paixões ou desilusões.

Ao mesmo tempo em que a trilha sonora, composta de sucessos de Amado Batista, Lindomar Castilho, Agnaldo Timóteo, Odair José, Wando e Nelson Ned, embala as cenas captadas pelo olhar sensível do fotógrafo Manuel Águas, vamos nos familiarizando com as dores e os amores de personagens tão ricos, como o frentista Maguila, deixado pela mulher e “trocado por outro”; o prefeito de Monte Alegre, Osmar, que diz que “as duas piores coisa na vida é perder eleição e ter duas mulheres”; ou da travesti, Marquise, em busca do seu amor verdadeiro.

A riqueza do filme não para por aí. É impressionante o poder que Ana Rieper tem de aproximar num mesmo patamar, os fãs de seus ídolos, obtendo também destes últimos, depoimentos reveladores. Cito o de Agnaldo Timóteo sobre o seu lado “aventureiro” e o de Lindomar Castilho, que explica como “todos podem perder a cabeça por ciúme” em alusão ao crime que cometeu no passado.

No entanto, para chegar ao resultado primoroso, que constatamos na tela, a diretora dedicou cerca de uma década ao projeto. O primeiro esboço do roteiro foi feito em 2003. Antes disso, entre 1998 e 2002, a diretora carioca morou em Aracaju, por conta de um projeto que desenvolveu junto às comunidades ribeirinhas do São Francisco.

“Foi durante este período, de andanças pelo interior de Alagoas e Sergipe, que fui me familiarizando com o cotidiano dessas comunidades, percebendo a influência do cancioneiro romântico nas vidas dessas pessoas. A partir daí, comecei a pensar num filme que abarcasse esse universo”, conta Rieper.

Passaram-se quase sete anos, desde o primeiro roteiro esboçado até as primeiras pesquisas de campo. Em 2010, a diretora juntou-se a Ivy Almeida e a Raphael Borges (mais conhecido como Mingau) e viajou durante cinco meses, à caça de seus protagonistas. As filmagens duraram quatro semanas e a montagem consumiu três vezes mais deste tempo.

Ao todo, foi consumido cerca de 1 ano e três meses na realização de “Vou Rifar Meu Coração”, que graças ao patrocínio da Petrobras (pelo Programa Petrobras Cultural) e ao apoio do BNDES, pode ser produzido em digital. Se por um lado, este formato de produção reduz os custos e facilita sua operacionalidade, por outro lado, a distribuição pelo país fica limitada, tendo em vista que são pouquíssimas as salas de cinema pelo país, dotadas de projetores digitais.

“Quando os complexos de cinema possuem essa possibilidade de exibição, geralmente, dedicam a sala para os blockbusters e filmes nacionais, como ‘Vou Rifar Meu Coração’ ficam em desvantagem”, diz a diretora.
Outro ponto preocupante para Ana Rieper, com relação à longevidade nas exibições do filme, é o retorno esperado pelos exibidores na primeira semana. “Um filme como ‘Vou Rifar Meu Coração’ cujo número de espectadores vai aumentando conforme o boca a boca, não pode ficar apenas uma semana em cartaz. É preciso que seja dado tempo mínimo para que o filme alcance sua meta, que vai ser bem distinta, por exemplo, da meta esperada de um blockbuster. O problema é que os exibidores não enxergam essas diferenças, querem resultados imediatos na bilheteria, exigindo um desempenho igual para filmes de públicos distintos e apelos diferentes”, explica Rieper.

Para ela, o problema da distribuição de títulos nacionais não perpassa apenas pelo número de salas de exibição espalhadas pelo país, mas por um conjunto de fatores, que inclui também a falta de política de fomento à distribuição.

Mesmo antes de entrar em circuito, “Vou Rifar Meu Coração” já tem chamado a atenção em festivais nacionais e internacionais. O filme recebeu o prêmio de Melhor direção e Melhor Montagem no 7º FestiCine Goiânia (2011); prêmio de Melhor Direção de Arte em um Documentário e Premio especial da Associação de Críticos (Fipresci Uruguai) no V AtlanticDoc (2011) e Melhor Filme Brasileiro no Festival de Documentários Musicais In-Edit (2012).

Há dois meses, Ana Rieper veio a Sergipe e realizou exibições de “Vou Rifar Meu Coração” nas cidades de Laranjeiras, Canindé do São Francisco, Simão Dias e Moita Bonita (no Circo Águia Azul, onde foi rodada a cena do cover de Amado Batista). “As exibições foram fantásticas em todas as cidades. No circo, em especial, o público que lotou o recinto, reagiu bem ao filme. A intenção dessas exibições no interior de Sergipe foi a de que os personagens se vissem na tela, além de oportunizar a uma boa parte da população, o acesso ao filme”.

A partir de hoje, no entanto, quem não quiser perder essa pérola, pode conferi-lo no Cinemark Jardins, nas sessões de14h55-19h10 e 23h40 (esta última, somente sábado).  É diversão garantida!







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