segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Curta Sergipano será exibido no Festival Mix Brasil

"Presente de Aniversário"_foto divulgação_http://bangalocult.blogspot.com
Ewertton (primeiro plano) protagonizando "Presente de Aniversário"


O 20º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade que começou na quinta-feira passada e prosseguirá até o próximo domingo, em São Paulo- seguindo depois para o Rio de Janeiro (22/11 a 01/12)- tem um representante sergipano. Trata-se do curta-metragem “Presente de Aniversário” de Hélio Marinho, que será exibido esta quarta-feira, às 19h, no Centro Cultural São Paulo.

Esta é a primeira vez que um filme das “Terras de Ará” é selecionado para participar do maior festival LGBT da América Latina. O filme mostra a história de um jovem (vivido pelos atores Leo Ribeiro, criança e Ewertton Nunes, na fase adulta) que sofreu violência do pai (Flávio Porto) na infância, quando os primeiros traços da sua homossexualidade (ou seria transsexualidade ?) começaram a aflorar. A sua predileção pelo universo feminino fizera com que o seu pai o privasse da liberdade desde cedo. Após o suicídio do genitor, ele decide sair às ruas dando liberdade à sua natureza, mesmo que tenha que chegar  ao limite para que isso aconteça.

“Quando pensamos em rodar o filme, queríamos contribuir com a discussão de um assunto sério: o bullying contra aqueles que possuem uma natureza diferenciada. Sergipe é um dos Estados com o maior índice de assassinatos a homossexuais e isso é muito preocupante. Não podemos achar normal essa violência, seja física ou moral contra aqueles que possuem particularidades na sua forma de ser ou se relacionar com o mundo. O cinema não pode deixar de participar dessa luta contra a homofobia e contribuir para que a sociedade discuta temas os quais ela possui dificuldade, a exemplo da homossexualidade na infância, por mais difícil que isso seja.” Diz o ator Ewertton Nunes, que também é roteirista e preparador de elenco de “Presente de Aniversário”.    
       
Para o realizador, Hélio Marinho, a seleção para o 20º  Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade é resultado da qualidade dos filmes produzidos no Estado, fruto de uma crescente demanda na produção audiovisual nas última década. “Estamos passando por um processo de amadurecimento técnico no setor do audiovisual em Sergipe, muito por conta do curso de Audiovisual da Universidade Federal de Sergipe, dos cursos ofertados pelo Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira e das iniciativas isoladas dos realizadores. Sinto que logo o Estado terá uma demanda tão grande que será preciso mais investimento para produção e escoamento de tanta produção. Nossos atores estão ficando cada vez mais preparados para essa linguagem. Em resumo, sinto que teremos, em breve, um grande boom no cinema sergipano.”

Sobre o filme- A trama, adaptada de um conto de Ewertton Nunes é interessante, sobretudo pelo seu desfecho surpreendente.  A escolha da narrativa bifurcada em dois tempos (presente e flashback) funciona adequadamente, mas a angústia do personagem quando criança, não é tão acentuada quanto poderia ser expressada pelo jovem ator. Há um descompasso na atuação do pai (Flávio Porto), mãe (Stephane Paula) e filho (Leo Ribeiro), fruto da experiência profissional do primeiro em relação aos demais que contracena.

Ewertton Nunes, que é bailarino, escritor e ator, também se sobressai quando divide a cena com Ivilmar Gonçalves e Lucas Lins, mesmo tendo pouca experiência diante das câmeras. A grande pedra no sapato do casting sergipano quando escalado para atuar no cinema é a notória performance teatral dos atores. Afinal, eles estão mais acostumados com o palco que as telas. Porém, essa realidade terá que ser modificada, caso o cinema sergipano se encaminhe para o boom profetizado por Hélio Marinho.

Quanto ao diretor, há de se elogiar o esforço demandado por ele para desenvolver seus projetos audiovisuais em Sergipe, totalmente independentes. Intuitivo, inventivo e curioso, Hélio que era um técnico em informática até três anos atrás, mergulhou de cabeça no sonho de dirigir filmes, mesmo que não sejam do gênero terror e suspense que tanto admira.

Tendo feito vários cursos no Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira (NPDOV), nas áreas de fotografia, produção, roteiro, direção e edição, o rapaz tem a possibilidade de galgar uma carreira promissora, mas precisará focar mais sua atenção no todo, aguçando seu olhar de diretor, ao invés de restringir sua atenção para a parte técnica (sobretudo a edição).

O filme apresenta problemas de iluminação (a cena pós-suicídio é extremamente escura) e a trilha sonora provoca um ruído, ao contrário de pontuar a dramaticidade. Outra cena que é demasiadamente problemática é a da passagem do tempo durante o plano do reflexo no espelho do personagem principal. Há uma demora  para se encontrar o foco da imagem pelo diretor e não acredito que isso seja escolha estética.

Enquanto aguarda repercussão de seu filme durante o 20º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, Hélio Marinho toca a pós-produção de três curtas: “A Menina da Casa” (filme de terror), “Entre o Hoje e o Amanhã” (série de 10 monólogos filmados) e  “Reagentes” (filme com temática LGBT) nos Studios Marinho. Prepara-se ainda para captar recursos para dois projetos aprovados pela Lei Rouanet “Miopia- Dário de uma fotografia” e “Helena- Vidas Iguais, Histórias Diferentes”.

Torçamos para que obtenha sucesso.

3 comentários:

Ewertton Nunes disse...

Fico muito feliz em ver um blog como esse... Que para além de divulgar a produção sergipana, contribui com uma crítica construtiva e cuidadosa. Obrigado por sua análise e pelo apoio de sempre, Suyene! Grande abraço!

Bangalô Cult disse...

Ewertton, que bom que você interpretou com bom senso as minhas palavras. Nessa terra, nem sempre os artistas e produtores estão abertos a críticas sinceras.
Aguardo as suas próximas produções (e do Hélio Marinho também).
Abs

Ewertton Nunes disse...

Imagina... Quem trabalha com o subjetivo precisa saber respeitar pontos de vista. O olhar do outro merece a nossa atenção profunda, pois, é da natureza humana se prender a vaidades que nada acrescentam. E é nesse contato com a diversidade de opinões, com o contraditório que a evolução de fato acontece. Somos todos aprendizes, e por fazer por amor, eternos amadores. Agradeço mais uma vez e quero sua opinião nos meus próximos projetos! SUCESSO! Que "PRESENTE DE ANIVERSÁRIO" consiga motivar mais discussões sadias como essa, em Sergipe, lá em SP e no Rio e quem sabe fora do país. Grande abraço!