Até a última terça-feira, dia em que retornei a Aracaju, depois de seis dias em Paulínia, acompanhando o Festival de Cinema de lá, o filme que mais chamou a atenção da crítica especializada, no quesito má realização, foi "Dores & Amores" de Ricardo Pinto e Silva.
Pensávamos que não haveria concorrente para "As Doze Estrelas" de Luiz Alberto Pereira, mas a comédia rasa e 'desprentensiosamente' banal de Ricardo Pinto, cujo roteiro ele divide com Dagomir Marquezi e Patrícia Müller, superou nossas expectativas (no mau sentido, por sinal).
Como disse o próprio diretor na coletiva inflamada que aconteceu na manhã de anteontem, "o filme apesar de ter sido inspirado livremente na obra "Dores, Amores e Assemelhados" de Cláudia Tajes, não é o livro da Cláudia. É o meu filme. Daí, porque quis fazê-lo daquela forma, com aquele humor. Um filme despretensioso".
Com um formato televisivo da pior estirpe, a produção luso-brasileira é protagonizada pela atriz Kiara Sasso (a única que não compromete a película), que vive a balzaquiana Júlia, diretora de uma agência de modelos, à procura de "um homem para chamar de seu". O problema é que o rapaz que ela deseja, Jonas (Márcio Kieling), envolve-se com uma doceira portuguesa, meio ninfomaníaca (Cláudia Vieira).
Entre dores e amores, muito visual kitsh, vinhetas excessivas (que deixam a narrativa insuportável), atuações sofríveis e um exercício de metalinguagem com a novela "Vidas Sem Rumo" de um mau gosto surreal. Diante dessa descrição, o internauta pode pensar que estou exagerando, mas quase a totalidade dos jornalistas que assistiram a esse fiasco, concorda que o filme não deveria ter sido escolhido para a competitiva.
Tal reação negativa suscitou um dos melhores debates do evento. Ricardo Pinto não se intimidou e chegou no local da coletiva, pronto para o ataque. Atingiu diretamente alguns jornalistas mais efusivos em suas colocações e, num dado momento, disse que "se for para essa mesa continuar a ser inquisitória, eu me retiro".
Não precisou fazê-lo. A jornalista Maria do Rosário Caetano, que mediava a mesa, com maestria, soube gradativamente amansar a fera. Num determinado momento, Luiz Zanin pediu a palavra e fez um discurso apaziguador. A conversa (batalha, inicialmente) se prolongou até às 14h, sem muitas "baixas", mas com uma pergunta que não quer calar: Por que filmes de qualidade duvidosa como este são escolhidos para a Mostra Competitiva? Não seria o caso de se criar uma mostra paralela maior e adequar esses filmes a ela ?
Texto: Suyene Correia
Um comentário:
oi suy! estive acompanhando toda a cobertura do festival e fiquei impressionado com a boa qualidade de alguns filmes que vc escreveu, a ponto de querê-los aqui para que possa apreciá-los, embora penso ser difícil o cinemark aju trazê-los. As sinopses redigidas por ti, são encantadoras e despertam sim, nossa curiosidade! a mesma curiosidade em ler sobre os fiascos do festival, em querer entender do porque, realmente, não se cria uma mostra paralela e adapta a ela a esses filmes, sem falar de como os diretores têm coragem de se expor dessa forma com películas tão absurdas e toscas. mais uma vez vc está de parabéns pela cobertura!
que bom que já está de volta! beeeijo.!
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