quinta-feira, 25 de outubro de 2018

"3 Dias Em Quiberon": Romy Schneider por Ela Mesma

Marie Baümer vive Romy Schneider em "3 Dias em Quiberon"

Filmes com o intuito de homenagear uma personalidade artística tendem a esconder seus defeitos, suas fragilidades e apenas enaltecer suas virtudes. Geralmente, são produções no formato documental, que sustentam a figura mítica do indivíduo, criada pela mídia. "3 Dias Em Quiberon"  da diretora alemã Emily Atef não deixa de prestar uma homenagem à atriz Romy Schneider (1938-1982), somente que pelo viés oposto.

Esta ficção faz um recorte da vida de Romy Schneider, justamente, da época em que estava hospedada num centro de desintoxicação, na comuna de Quiberon, região da Bretanha (França). Era o ano de 1981 e a atriz austríaca, recém-divorciada do segundo marido Daniel Biasini e ainda abalada com o suicídio do primeiro companheiro, Harry Meyen, dois anos antes,  lutava contra a dependência do álcool e de medicamentos, a fim de poder criar os filhos David Christopher e Sarah Magdalena Biasini, então com 13 e 4 anos de idade. 

A batalha não é fácil e a amiga Hilde (Birgit Minichmayr) sabendo disso, decide ir ao encontro de Romy (Marie Bäumer) em Quiberon, para lhe dar apoio. Quando a paz começa a tomar conta do coração da atriz, chega a dupla de jornalistas Michael Jürgs (Robert Gwisdek) e Robert Lebeck (Charly Hübner), esse último, antigo amante de Schneider. Eles pretendem, durante três dias, entrevistar e realizar uma série de fotos de Romy Schneider, a fim de publicar uma matéria na revista semanal alemã Stern.

Mesmo atravessando um período difícil, Romy não se furta de falar o que pensa, desnudando-se por completo, ao revelar suas fragilidades, as dificuldades em lidar com a fama (sobretudo pelo fato das pessoas confundirem a personagem Sissi com  a mulher Romy Schneider) e ser mãe ao mesmo tempo. A partir daí, o jogo que se estabelece entre os quatro personagens é muito interessante. Se a princípio, Hilde vê com desconfiança as intenções por trás do trabalho de Jürgs, por outro lado, Romy acredita que nada vai sair errado, por conta do amigo Lebeck.

À medida que a entrevista vai fluindo, Hilde tenta proteger a amiga de uma possível armadilha, porém movida pela bebida, Romy deixa-se levar pela emoção e revela-se como nunca, fazendo com que o próprio Michael Jürgs, a partir dessa entrega da atriz, repense sobre o uso do conteúdo jornalístico adquirido em Quiberon. Afinal de contas, o que Schneider almeja é sua liberdade. A possibilidade de ser "ela mesma" e a dupla da Stern respeitará sua escolha.

Ainda que Sarah Magdalena não tenha aprovado a maneira como a mãe foi retratada em "3 Dias Em Quiberon", o filme tem muitos méritos. O elenco é coeso, mas quem rouba a cena é Marie Baümer, que a despeito da enorme semelhança física com Schneider, é uma atriz de excelência;  a fotografia em preto e branco é deslumbrante e reproduz, fielmente, a atmosfera melancólica do lugar e o estado de espírito de Romy, captada na época, pelas lentes de Robert Lebeck (o ensaio contou com cerca de 600 fotos); a diretora demonstra mais uma vez, total domínio de dramaturgia, além de dirigir atrizes cujas personagens sempre estão em situação bastante conflitante (a exemplo de "O Estranho em Mim" (2008) e "Kill Me" (2012)).

No filme de Atef, a "eterna" Sissi mostra-se desprovida de máscaras, por vezes, eufórica, outras, melancólica, mais humana do que mítica. A mulher que, quase um ano depois, morreria precocemente, aos 43 anos.

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