sábado, 27 de outubro de 2018

"Ava" e o Sonho de Liberdade

Ava (Jabbari) e o pai (Aghapoor): aliança ameaçada pela mãe

À Luta, Mulheres !! É só o que faltou Ava gritar, no plano final do filme homônimo.  A adolescente Ava (Mahour Jabbari) vive sufocada pela super-proteção da mãe (Bahar Noohian) e pela rigidez disciplinar do colégio onde estuda. Seus momentos "de respiro" são as aulas de violino- incentivadas pelo pai (Vahid Aghapoor)- e os encontros com a amiga Melody (Shayesteh Sajadi). 

Ava quer ser musicista, mas a mãe, médica, quer um futuro mais promissor para a filha. Apesar de receber o apoio do pai, este pouco está em casa, sendo cobrado pela esposa, a ter uma maior participação na educação da filha. Os conflitos vão se intensificando na família, quando Ava dribla a vigilância da mãe e é levada por ela à ginecologista, para atestar sua virgindade. 

Humilhada com a situação, a rebeldia da garota toma proporções inimagináveis e a cada nova decisão, sua liberdade vai sendo mais cerceada. Porém, a descoberta de segredo familiar, fará com que Ava encontre o caminho da libertação, ainda que de forma traumática, contra o sistema opressor iraniano.

O filme da diretora iraniana Sadaf Foroughi (residente no Canadá) em muitos aspectos se assemelha à produção saudita "O Sonho de Wadja" de Haifaa Al Mansour. Ambas as adolescentes gostam de música, usam tênis all star e estudam em instituições rígidas, dirigidas por figuras ditatoriais. Mas a produção iraniana utiliza um outro viés para criticar o patriarcado, a condição da mulher em países de religião islâmica e o falso moralismo nas relações familiares. 

A jornada de Ava é muito mais dramática e asfixiante do que a de Wadja. Talvez, por conta de ser um pouco mais velha que a protagonista do filme saudita, Ava mantém uma relação com a mãe mais competitiva e tempestuosa. Aqui, também não há espaço para o humor. Auxiliam para essa sensação, a estilosa fotografia de Sina Kermanizadeh (com uma paleta de cores bem contrastada) e a impecável direção de arte de Siamak Karinejad que transformam a casa de Ava numa espécie de bunker em contraste com a residência da professora de música.

Mesmo debutando na direção de filmes de longa-metragem, Sadaf Foroughi faz jus à tradição dos filmes iranianos com mulheres protagonistas: contundentes, necessários e marcantes. Ave "Ava"!! 

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