segunda-feira, 29 de outubro de 2018

"Selvagem": sexo, drogas e amor


Félix Maritaud vive um garoto de programa em "Selvagem" 


"Selvagem" foi o único filme francês que assisti nessa 42a edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O longa chamou-me a atenção por duas razões: tem como personagem principal, um garoto de programa que foge dos padrões habituais e por ter como protagonista, o ótimo ator Félix Maritaud, que marcou presença no premiado "120 Batimentos Por Minuto" de Robin Campillo.

Há quem tenha saído no meio da sessão de "Selvagem", talvez, incomodado com a crueza que a vida de Léo é representada, mas confesso que não foi a degradação do personagem que me incomodou, senão sua ingenuidade. Léo é um jovem de 22 anos que ganha a vida de prostituindo. Apesar de bonito, seu aspecto sujo e mal cuidado denota a vida miserável que leva, regada a drogas, alimentação  precária e privação de sono. 

Diferentemente dos michês que dividem a zona com ele, que geralmente exploram os clientes, Léo, carente na sua essência, doa-se completamente aos homens com quem transa. Amor mesmo, ele nutre pelo amigo e também michê, Ahd (Eric Bernard), mas este deseja um futuro sólido, uma vida bem estabelecida. Quando Ahd  reata o relacionamento com um homem bem mais velho e despreza o amigo, Léo entra em parafuso e toma decisões contraditórias.

Ao mesmo tempo que tenta deixar as drogas, procurando atendimento especializado, num nítido aflorar do instinto de sobrevivência (Eros), Léo entrega-se a clientes sádicos, que debilitam-lhe o corpo e, porque não dizer, a alma também (Tânatos). A vida dá-lhe uma chance rara de mudança, mas a essência do rapaz parece mirar na corda bamba da vida "selvagem" e libertária.

Em "Selvagem", o diretor Camille Vidal-Naquet traça  um retrato interessante do mundo do bas-fond, tendo como foco, a trajetória desse protagonista pouco provável na vida real (mas não impossível). Félix Maritaud está à vontade no papel e as cenas de sexo (ainda que contidas, para o universo em que estão inseridas) passam veracidade. Essas são filmadas mais de perto, com intensidade, assim como as duas sequências de dança, enquanto os planos mais abertos, voyeurísticos são explorados quando Léo está à caça de clientes.

É um filme que, a princípio, pode atrair apenas o público masculino e gay, mas vale a pena se despir de preconceitos e dar uma chance a esse longa de estreia de Camille Vidal-Naquet. Nu e cru!!

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