sexta-feira, 19 de outubro de 2018

42a Mostra Internacional de Cinema de SP- PRIMEIRO DIA

Rachel Weisz e Olivia Colman se destacam em "A Favorita"

"Rir ou Morrer": destaque do cinema finlandês


No primeiro dia de maratona de filmes na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, assisti a quatro produções: "A Favorita" do grego Yorgos Lanthimos, "A Imagem Que Você Perdeu" do irlandês Donal Foreman, "Sofia" da marroquina Meryem Benm Barek e "Rir ou Morrer" do finlandês Heikki Kujanpää. Saldo mediano, tendo em vista que o primeiro e o último filmes foram bons, enquanto o segundo e o terceiro, medianos. 

O drama épico, com pitadas de humor, "A Favorita" talvez seja o filme de Lanthimos mais acessível, aquele com um tratamento mais tradicional na feitura da trama. Ambientado na Inglaterra do início do século XVIII, a produção explora a tão comum disputa de poder entre os nobres de uma realeza e o envolvimento entre a Rainha Anne (Olivia Colman), sua amante Sarah Churchill, a Duquesa de Marlborough (Rachel Weisz) e  a serviçal e ex-lady Abigail Marsham (Emma Stone).

O roteiro assinado por Deborah Davis e Tony McNamara, no entanto, usa a política como pano de fundo, concentrando-se nas relações interpessoais, sobretudo, entre as personagens femininas (a trinca de atrizes receberá um prêmio especial no Gotham Awards, dia 26 de novembro), onde Sarah e Abigail disputam a preferência de Anne- uma mulher doente e inapta para comandar um reino- na esperança de ascenderem politicamente ou socialmente.

Ainda que o elenco conte com coadjuvantes competentes como Nicholas Hoult (Robert Harley) e Mark Gattis (John Churchill), quem brilha mesmo são Emma Stone (mostrando maturidade a cada novo papel), Rachel Weisz (que dispensa elogios) e Olivia Colman (que demonstra aqui, o que podemos esperar de sua performance como a Rainha Elizabeth II, na terceira temporada de "The Crown").

Há de se destacar  a direção de arte caprichosa de Fiona Crombie e a direção de fotografia de Robbie Ryan. Este último, explora bem a luz natural tanto nos espaços ao ar livre, como nos cômodos do palácio (a locação utilizada foi a Hatfield House, em Hertforshire, na Inglaterra), não se descuidando de compor belos contrastes entre luz e sombra, nas cenas noturnas. Talvez, o senão do trabalho de Ryan, tenha sido o uso quase que contínuo de lentes grande-angulares (distorcendo os ambientes, principalmente, nas laterais da tela) e o excesso de planos  em contra-plongée. 

De qualquer modo, "A Favorita", é um filme correto no conteúdo, exuberante na forma e que já nasce com grandes chances de  arrebatar estatuetas douradas na festa de entrega do Oscar 2019. É aguardar para ver!!

Já "Rir ou Morrer" de Heikki Kujanpää é uma comédia dramática, baseada em fatos reais, onde num campo de detenção em uma ilha finlandesa, por volta de 1918, após a Guerra Civil naquele país, um grupo de atores, acusados de serem "rebeldes vermelhos", aguardam a hora da execução. Juntam-se a eles, Parikka (Martti Suosalo), conhecido como o ator mais engraçado do país, cujo humor aborrece o sisudo comandante do campo, Hjalmar Kalm (Jani Volanen). Na hora da execução, Toivo Parikka faz gracinhas para os soldados, antes desses receberem a ordem final do jovem Nyborg (Paavo Kinnunen).

Diante da hesitação de seu subalterno, Kalm decide lançar um desafio para Parikka: se o ator e seus companheiros montarem uma peça divertida para seus convidados alemães, eles não serão executados. A partir daí, acompanharemos o processo de ensaios da trupe, tendo como aliada a esposa de Kalm, Helen (Leena Pöysti), que vai se afeiçoando por Parikka. Mas nem tudo são flores nessa caminhada.

É interessante como o humor e o drama são dosados na medida certa, ao longo da narrativa, sem deixar pistas de como será o desfecho. Ainda que algumas interpretações beirem o caricato, no geral, o elenco está afiado e Leena Pöysti se destaca, compondo uma Helen altiva e generosa, ainda que em meio à rigidez militar que domina o ambiente em que convive.

Um título para se colocar na lista dos recomendados da 42a Mostra, sobretudo por conta dos tempos atuais, onde as pessoas esquecem do sentido da palavra solidariedade e da importância da arte como ferramenta de transformação do ser humano.

Quanto aos outros dois filmes, de diretores estreantes, confesso que não fui com muita expectativa para ver  "A Imagem Que Você Perdeu" de Donal Foreman. Irlandês, de 33 anos, Foreman começou a realizar filmes caseiros com 11 anos de idade e contabiliza dois longas e cerca de 50 curtas no currículo. Filho do documentarista e escritor norte-americano Arthur MacCaig- que cobriu uma boa parte dos conflitos entre as duas Irlandas-, ele resolve realizar um documentário mosaico, mesclando imagens de três décadas (anos de 1970, 1980 e 1990), onde sua história de vida, tumultuada pela ausência da figura paterna na infância, se confunde com as transformações políticas e sociais sofridas pelo próprio país natal. Apesar de curta duração (73 minutos), por vezes, o filme torna-se modorrento, devido à narrativa em off e a montagem pouco eficaz.

Quanto ao filme "Sofia", criei uma certa expectativa, por conta do prêmio de Melhor Roteiro na seção "Un Certain Regard" em Cannes. Estreia da diretora marroquina Meryem Benm Barek, o filme aborda o tema da criminalização do sexo extraconjugal, no seu país. A personagem título, vivida por Maha Alemi, está prestes a dar à luz, mas seus país não têm ideia dessa realidade.

Quem a ajuda é sua prima médica Lena (Sarah Perles), conseguindo com que ela receba atendimento médico num hospital, por pelo menos, 24 horas. Antes que as autoridades cheguem, exigindo os documentos do genitor, as duas têm que fugir, indo atrás de Omar (Hamza Khafif), suposto pai da criança.

A partir daí, começarão as tentativas de arranjo da situação, para que o casal não seja preso. Basta que Omar aceite casar-se com Sofia, mas a questão não é tão simples, assim. Com algum as reviravoltas, a narrativa vai desvelando a verdadeira personalidade de Sofia: nem pura, nem profana. O problema, talvez, seja a incapacidade de Maha Alemi de alcançar a densidade que a personagem principal exige.

Apesar de protagonista, sua personagem perde terreno para os conflitos estabelecidos entre Lena e sua mãe, Leila (Lubna Azabal). Outro problema, talvez tenha sido a escolha da diretora em expor os problemas sociais que atingem, principalmente, as mulheres no Marrocos, sem esmiuçar a engrenagem que alimenta esse sistema opressor. A experiência de assisti-lo, terminou sendo frustrante.

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