Trabalhos do polêmico artista plástico, escritor, videomaker e compositor Nuno Ramos podem ser vistos a partir de amanhã, à noite, na Galeria de Arte do SESC/centro (rua Dom José Thomaz, 235). Na exposição “Só Lâmina”- homônima à série de desenhos do pintor, inspirado em oito estrofes do poema “Uma Faca Só Lâmina” de João Cabral de Mello Neto- ainda é possível conferir a instalação sonora “Carolina” e o vídeo “Luz Negra”, em homenagem ao sambista Nelson Cavaquinho.
Os 11 desenhos-colagens presentes na exposição são resultado da pesquisa que Ramos desenvolve há três décadas, sobre as possibilidades que existem para a superfície bidimensional da tela. Não há quase distinção entre desenho e pintura, e o artista manifesta neles não só a destreza plástica da lâmina, mas também o raciocínio seco do corte.
Acrílico, metal, espelho, pelúcia, tudo é cortado com o intuito de metamorfosear a poesia de João Cabral. E parece que o objetivo é alcançado. “Nestes desenhos apresentados na exposição, Nuno se utiliza de uma equação mental para produzir, sempre trabalhando com duas curvas e duas retas colocadas sobre palavras, vaselina ou pelúcia para criar uma forma que parece balanço, dando sempre a impressão de estar na iminência de se desfazer ou mudar de lugar. Estas formas recortam-se umas às outras como lâminas”, explica Stela Barbieri, coordenadora do material gráfico educativo.
Também deverá chamar a atenção dos visitantes, o curta “Luz Negra” e a instalação “Carolina”. No filme, produzido em 2002, que remete a uma canção de Nélson Cavaquinho e Amâncio Cardoso, Nuno Ramos (que contou com a colaboração de Eduardo Climachauska) instala em campo aberto caixas de som gigantes, onde se ouve “Juízo Final”.
Durante 11 minutos assistimos ao “sepultamento das caixas” por onde ecoam, abafados, os versos “O sol...há de brilhar mais uma vez/A luz....há de chegar aos corações/Do mal....será queimada a semente//O amor...será eterno novamente/É o Juízo Final, a história do bem e do mal/Quero ter olhos pra ver, a maldade desaparecer//”. É como se a violenta contenção deformasse a matéria sonora e desse à tão característica subterrânea voz do cantor, o seu verdadeiro lugar.
Na instalação “Carolina”, a palavra vira objeto. Originalmente, duas paredes feitas com caixas de som “conversam uma com a outra”, com perguntas e respostas de uma longa lista de chamada. No total são 72 laudas escritas pelo artista, que rendem quase quatro horas de gravação, tendo como fundo sonoro, o murmúrio da metrópole paulistana. Na galeria do SESC/centro, por questão do espaço, “Carolina” virá com uma versão reduzida (no que tange ao tamanho das caixas de som).
A exposição “Só Lâmina” será aberta amanhã, às 19h, na Galeria de Arte do SESC/centro e ficará em cartaz até o dia 23 de setembro. A visitação poderá ser feita de segunda a sexta-feira, das 8 às 19h. Mais informações pelo telefone 3216-2753.
Legenda das Fotos 1 e 2: Desenhos-colagens de Nuno Ramos que fazem parte da exposição “Só Lâmina” montada na Galeria do SESC
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