No próximo dia 29 de maio, às 21h, no Auditório da Biblioteca Pública Epiphânio Dória, o sergipano Rubens Lisboa estará lançando num show gratuito, seu quarto disco, intitulado “Arteiro”. Neste novo trabalho, 100% autoral, o cantor e compositor traz 14 faixas bem diversificadas, incluindo samba (‘Doce Salgado’), ciranda (‘Três Flores’), maracatu (‘Maracatu do Brejão’) e blues (‘Um a Zero’), num mix que não sai do ritmo e deve conquistar novos admiradores à sua legião de fãs.
Bangalô Cult- Comparando o seu disco com certos produtos que têm chegado ao mercado recentemente, como os novos trabalhos de Céu, Juliana Kehl e Tita Lima, só para citar alguns, onde há uma mescla da tradicional “batida” MPB com células eletrônicas, você de fato está andando na contramão, como diz uma faixa de seu novo CD. Por que a escolha de um disco mais econômico, com apenas um violonista, um baixista e um percussionista compondo a base musical?
Rubens Lisboa- Porque eu estou em um momento no qual resolvi valorizar a canção no seu nascedouro. Estou buscando a simplicidade. E quero que as pessoas cantem as minhas músicas. É o meu objetivo mais urgente enquanto compositor. Amo o trabalho dessas meninas lindas que você citou, são batalhadoras da boa música brasileira, assim como eu, e se formos reparar estamos buscando a mesma coisa. Muda o invólucro, essa coisa de utilizar o que você chamou de células eletrônicas, por exemplo. Eu, depois de três discos gravados acompanhado por uma banda, resolvi me entregar à ousadia de utilizar apenas um trio formado por grandes músicos sergipanos: Saulo Ferreira, Robson Souza e Pequeno (respectivamente no violão, baixolão e percussão) e posso garantir que está sendo uma experiência muito rica a prazerosa.
BC- Sua verve romântica está mais aguçada nesse trabalho que nos discos anteriores. Assim como seu lado meio autobiográfico (nas letras das composições, parece que conhecemos mais o lado pessoal de Rubens Lisboa). O que o motivou a seguir esse caminho em “Arteiro” ?
RL- É, as pessoas andam comentando isso, mas não foi proposital. Nunca fui um romântico de carteirinha. Talvez esteja passando por um momento mais apaixonado, vai saber... Quanto a esse viés mais pessoal, um compositor sempre está presente em todas as suas criações, seja de uma forma ou de outra, um pouco mais em algumas, um pouco menos em outras. Mas estejam certos de que raríssimas composições minhas são de fato autobiográficas. Na maioria delas incorporo vivências e sensações que capto por aí pela vida afora, observando as pessoas. Minhas personagens são várias e é por isso que digo que o meu trabalho é plural.
BC- Por falar nisso, você não deixa de se expor nesse disco, revelando opiniões que, com certeza, suscitarão discussões. Um exemplo é a canção “Talento Serigy”, que fala daqueles tipos locais que vão dormir anônimos e acordam artistas. Está preparado para as críticas?
RL- Embora entenda que, além de divertir, entreter e emocionar, também é função inerente ao artista trazer a lume questionamentos e suscitar discussões, não vejo o porquê de tanta celeuma a respeito de “Talento Serigy”. É só uma música, o mundo não vai mudar por causa dela. E é apenas uma opinião: a minha. Utilizei-me da lenda do índio Serigy para fazer uma observação sobre certos fatos que vejo aqui na minha terra. Mas sei que isso é um fenômeno mundial, essa coisa de tanta gente se achar portadora de um talento que não lhe é aderente e com isso terminar atrapalhando o reconhecimento de quem realmente o possui. E nem se trata de um tema praticamente original: a Zélia Duncan já o abordou antes, ainda que sob sua ótica própria. Acho que somente se incomodarão com essa canção aqueles em quem a carapuça se adequar. Quem se garantir, seguirá em frente, incólume.
BC- Conte um pouco como foi o processo de produção do disco (composição, tempo em estúdio, masterização no Magic Master) e a escolha dos músicos.
RL- Este foi o meu trabalho mais tranquilo. Havia várias canções inéditas na minha cabeça e comecei a trabalhar com Saulinho em cima delas. Quando vimos, eram quase cinquenta. Daí, surgiu a vontade de gravá-las, o que se deu em seis meses, depois de selecionarmos quatorze. Aqui, faz-se necessário destacar que o CD conta, sim, com várias participações especiais de outros músicos, os quais me deram a honra de se fazerem presentes, sempre que as músicas assim exigiam. Resolvi masterizar o álbum no Rio de Janeiro, mais especificamente com o Ricardo Garcia no Magic Master, para que a sonoridade final do CD ficasse exatamente como a que perseguíamos desde que começamos a formatar o trabalho. E acho que conseguimos.
BC- Você misturou vários estilos musicais nesse “Arteiro”, como samba, ciranda, maracatu, blues e funk. Como você espera que o público receba esse mix de informações?
RL- Essa mistura é a característica maior da minha obra. Isso está presente desde o meu primeiro CD. É o que eu quero, é no que eu acredito. Sei que estrategicamente falando pode até soar mais complicado as pessoas virem a assimilar rapidamente esse ecletismo. Mas o caminho complexo sempre me foi o mais sedutor. Eu não nasci para me sujeitar a rótulos. Faço a música que acredito e ponto. Amo o samba, mas não quero ser tachado de sambista. Adoro baião, mas não quero ser rotulado de forrozeiro. Curto o pop, mas não quero ser chamado de roqueiro. E de mais a mais, o público que me acompanha já conhece o meu caldeirão sonoro. E as novas gerações que quero conquistar possuem uma mente bastante aberta quanto a essas possibilidades múltiplas de gêneros e estilos.
BC- Como vai ser o formato do show na Epifânio Dória (você estará acompanhado por quais músicos, terá um caráter intimista)?
RL- O CD, embora possua uma sonoridade acústica, não tem nada de intimista. E o show segue nesse sentido. Tem momentos pulsantes e outros de emoção à flor da pele. O repertório é calcado logicamente no novo CD, mas haverá passagens pelos meus outros discos e cantarei também músicas inéditas em minha voz. Serei acompanhado pelos três músicos que citei acima, além das participações especiais de Gilberto (na flauta), Igor (na gaita), Marcus Vinicius (no violão) e Diogo Montalvão (nos teclados). E haverá também as vozes maravilhosas das irmãs Adriana e Nurimar me amparando nos vocais.
BC- Você semanalmente avalia os lançamentos de discos no mercado fonográfico. De crítico, agora você passa a criticado, com o lançamento desse disco. Como lida com a opinião do público e da crítica especializada?
RL- Sempre optei pela delicadeza e educação quando analiso os discos que resenho. Sei do trabalho que dá, da enormidade de tempo que consome e da quantidade de pessoas envolvidas em cada um desses projetos. Por isso, tento respeitar ao máximo o artista analisado. É uma pessoa que está se expondo demais e somente por isso já mereceria todo o cuidado de quem escreve. Gosto muito de ouvir opiniões sobre o meu trabalho, seja de pessoas leigas ou daquelas especializadas em música. Mas hoje em dia já aprendi a depurar o que vale a pena ser assimilado ou o que é apenas fruto de despeito e frustração alheia.
BC- Quem quiser adquirir o disco após o lançamento, ele será encontrado onde? E quanto custará?
RL- Aqui em Aracaju, o CD “Arteiro” já se encontra disponível na Casa do Artista e na CD Club, acho que ao preço de R$ 15. Quem preferir adquiri-lo através da internet, poderá fazê-lo através dos sites da Saraiva (www.saraiva.com.br), da Siciliano (www.siciliano.com.br), da Livraria Cultura (www.livrariacultura.com.br) e das Lojas Fnac (www.fnac.com.br).
Um comentário:
É impossível não comentar o grau de sofisticação da entrevista, a precisão ( no sentido de precisa e de “precisar” ) das perguntas, o que possibilita respostas inteligentes. Isso evidencia que uma entrevista bem conduzida revela a função da mesma: produzir sentidos e despertar no leitor, neste caso, uma vontade enorme de ver o show e comprar o CD. Poderia aqui, entre aspas,citar vários trechos que traduzem o que percebo, mas fico por aqui
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