terça-feira, 4 de maio de 2010

" O Segredo" de Juan José Campanella


Com um certo atraso, abro espaço no Bangalô Cult para falar do vencedor do Oscar 2010: "O Segredo de Seus Olhos" do argentino Juan José Campanella. Confesso que o filme me surpreendeu (e muito!!) até os 110 minutos de exibição. Nos dez minutos finais, no entanto, um balde de água fria de frustração foi jogado em cima de mim, devido a um desfecho apelativamente mal escolhido pelo diretor (seria uma influência da terra do Tio Sam, já que dirigiu episódios das séries "House" e "Lei e Ordem" ?).

Por esse motivo, ainda penso que a estatueta dourada deveria ter ido parar nas mãos de Michael Haneke ("A Fita Branca"), mas como "águas passadas não movem moinhos...", concentro-me neste policial de roteiro bem elaborado que tem seus méritos e prende a atenção do espectador em quase toda sua duração.

Campanella não dispensa o ator Ricardo Darín mais uma vez ( que já participou dos seus filmes "O Mesmo Amor, a Mesma Chuva", O Filho da Noiva", "Clube da Lua) e o escala para viver o papel de Bejamín Esposito, funcionário de um Tribunal de Justiça. Ao se aposentar, ele resolve escrever um livro, partindo de um acontecimento que vivera 25 anos antes.

Na época, ele foi encarregado de investigar um assassinato brutal, mas como a Argentina de 1974 estava envolta numa nuvem de violência política, de modo que a pena para o culpado, não lhe pareceu justa. A partir do artifício do flashback é que Campanella  vai descortinando toda a trama, que por mais detetivesca que pareça, no fundo é guiada pelo amor. Vários tipos dele, inclusive.
O amor não consumado entre Esposito e sua antiga chefe Irene Hastings (Soledad Vilamil); o amor incondicional entre Ricardo Morales (Pablo Rago) e sua esposa (a jovem assassinada) e o amor perverso do algoz Isidoro Goméz (Javier Godino) para com sua vítima.

Como se não bastasse, o diretor equilibra com maestria os momentos de suspense com os de humor no roteiro adaptado do livro homônio de Eduardo Sacheri. O ator Guillermo Francella na pele do alcoólatra Pablo Sandoval, colega de trabalho de Esposito, é responsável pelas inúmeras gargalhadas que ecoam na sala de cinema durante a projeção do filme. Sua interpretação é memorável, assim como a de Darín, sempre competente.

Mas se "O Segredo de Seus Olhos" é um dos melhores exemplares do cinema argentino atual por conta da direção (os enquadramentos são muito bem elaborados), fotografia, direção de arte e elenco, o ótimo roteiro faz "desandar o caldo", não alcançando o patamar de excelência por ter um desfecho beirando o patético. Ainda não foi dessa vez, que o cineasta argentino produziu uma obra-prima!

Texto: Suyene Correia
Legenda da Foto:  Esposito (Darín) e Irene (Vilamil): feitos um para o outro ? 

3 comentários:

Fátima Lima disse...

Suyene, fiquei de cara tb com o filme. O fio narrativo é supreendente para o cinema Argentino. Li uma pensadora argentina que destacou isso: como esse filme muda a trajetória no cinema argentino.Se tiver oportunidade veja " O que resta do Tempo" de Elia Sulliman. Tou possada com a possibilidade do cinema "não ocidentalizado" contar his(estórias) e tb o último dos irmãos Cohen.

Abs e ficou excelente o post.

Michel Oliveira disse...

O filme não é policial, é drama.

Bangalô Cult disse...

Caro Michel, o filme é uma mistura de romance, drama e triller policial.
Não está errado classificá-lo como um desses gêneros.
Abçs