Tenho muito o que contar sobre os filmes que assisti nesta 33a edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, mas para não me deter em filigranas ou mesmo falar de quem não merece (no caso, certos filmes), já que não tenho tempo a perder, irei aos fatos.
Já são quatro dias de evento e 12 filmes vistos. Já falei de alguns, mas os melhores até agora conferi nos últimos dois dias. Destaque para "A Fita Branca"- grande sensação da Mostra, com sessões lotadas- e com direito a debate com o diretor de fotografia, Christian Berger. Filmado em preto e branco, o filme foi vencedor da Palma de Ouro deste ano e tem motivos de sobra.
Num vilarejo protestante no norte da Alemanha em 1913, às vésperas da I Guerra Mundial , uma série de acontecimentos bizarros começam a acontecer sem motivo aparente, envolvendo crianças num aparente ritual punitivo. O médico do vilarejo, a parteira, opastor e os camponeses são atingidos, cada qual de uma maneira diferente, instalando-se um clima de apreensão constante. O único que sai ileso da história é o professor da escola que, aos poucos, tenta desvendar o mistério.
Quem já viu outros filmes de Haneke, como "Funny Games", "A Professora de Piano", "Caché", entre outros, sabe como o diretor é hábil no que diz respeito a prender a atenção do espectador até o final da história com um clímax prá lá de eficiente. Mas parece que dessa vez, ele se superou. Pena que por conta de uma enxaqueca alimentar, não pude esperar pelo debate. Porém, não precisa conversar muito com Berger para saber que um dos seus ídolos é Sven Nykvist, diretor de fotografia de Ingmar Bergman. Estaria eu enganada?
Ontem, assisti ainda a "Uma Vida Real"- último filho de Guillaume Depardieu, morto no ano passado por conta de uma pneumonia- e "O Menino Peixe", filme da badalada Lucía Puenzo, diretora de "XXY". Mas sinceramente, ambos bem comuns, sem muita coisa a dizer.
Hoje, meu dia foi premiado com os ótimos "Independência", um filme filipino que é um verdadeiro "achado"; "Samson e Delilah", filme australiano que ganhou o Prêmio Caméra d'Or deste ano, "Lágrimas de Abril", filme finlandês muito bem dirigido por Aku Louhimies e "Veneza Americana",um documentário de 1925, que mostra as obras de infraestrutura da cidade de Recife.
Apesar de mudo e com poucos recursos, este último vale pelo histórico, sendo um dos primeiros filmes da pioneira Pernambuco Film, produtora responsável pelo Ciclo do Recife.
Vou me deter um pouquinho no "Independência" porque esse se chegar a Aracaju, será uma verdaeira "independência" do nosso circuito cinematográfico. O filme esteticamente é um primor, porque apesar de estarmos em pleno século XXI, o diretor Raya Martin, vai buscar referências do início dessa arte, com uso de fundos pintados e uma narrativa prá lá de mítica.
Praticamente, o cenário se resume a uma floresta, onde uma mãe e o filho se refugiam, após a chegada dos americanos nas Ilhas Filipinas. Daí, o que vemos é o tempo passar e juntamente com ele, surgir uma série de acontecimentos em meio aquela selva toda, filmada belamente em preto e branco. Em meio às agruras do tempo -haja tempestades- uma nova família parece superar as dificuldades que a natureza impõe. O único inimigo, como sempre, é o próprio homem. Para detê-lo, só se libertando.
Logo mais, sigo com a maratona de exibições. Vamos ver as pérolas que ainda poderei assistir. Até mais...
Legenda da Foto 1: O diretor Warwick Thorton e os atores Marissa Gibson e Rowan McNamara no inesquecível "Samson e Delilah"
Texto: Suyene Correia
Um comentário:
Olá, querida amiga! É uma pena não poder estar contigo para conferir estas preciosidades, que infelizmente, certas programações nunca irão chegar aqui. Mas no mais, vamos nos falando e quando chegar colocaremos o papo cultural em dia. As vezes, só viajando para termos a noção de vida mesmo, principalmente, cultural e que há coisas maravilhosas nos esperando a la fronteira. Enfim... Bjs
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