domingo, 23 de setembro de 2018

51o Festival de Brasília (Oitavo Dia)- "Temporada"

Na sexta-feira, penúltimo dia da Mostra Competitiva do 51o Festival de Brasília, o filme "Temporada" de André Novais Oliveira, despontou como um dos possíveis colecionadores de Candangos dessa edição. O diretor mineiro aposta num tom naturalista, para contar a história de Juliana (Grace Passô), uma mulher que se muda de Itaúna para a periferia de Contagem (MG), a fim de começar um novo emprego como agente de combate a Dengue, ao mesmo tempo que tenta lidar com as perdas que a vida lhe impôs.

Solitária e introvertida, aos poucos Juliana vai se sociabilizando com os colegas de trabalho, sobretudo: o divertido Russão (Russo APR), Hélio (Hélio Ricardo) e Jaque (Ju Abreu). São eles, que sem saber, vão dando gás a Juliana para superar a saudade de casa, o luto e o abandono do marido. Ao mesmo tempo, seu trabalho que demanda adentrar na residência de anônimos, faz com que a agente tenha acesso a universos muito particulares que vão testando seus medos, frustrações e aventando a possibilidade de mudanças.

Novais é habilidoso com a câmera, com a direção de atores (muitos deles estreando no cinema) e com as questões que aborda no longa-metragem, a exemplo da falta de perspectiva de uma melhor ocupação no mercado de trabalho para pobres e negros; o patriarcado; a violência na periferia; entre outros. São questões inseridas, paulatinamente, na trama, a partir das situações vividas pelos personagens.   

"Temporada" é um filme delicado, com uma pegada cômica na medida, para contrabalançar o momento dramático que a protagonista está passando. Juliana é um personagem complexo, cheio de nuances, que funciona muito bem por conta da interpretação minimalista, beirando o naturalismo, que Grace Passô imprime. Os atores coadjuvantes também produzem resultados satisfatórios, com atuações equilibradas que somam-se ao trabalho da protagonista.

Auxiliando na construção de uma atmosfera bem peculiar para "Temporada", há de se destacar o trabalho de Pedro Santiago (trilha musical), Wilssa Esser (diretora de fotografia) e Diogo Hayashi. Sem dúvida, a confirmação do amadurecimento de André Novais Oliveira e sua consolidação no hall de novos diretores a se destacar no cenário cinematográfico brasileiro.

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