quarta-feira, 26 de setembro de 2018

"Temporada" é o grande vencedor do 51o Festival de Brasília

Meu balanço sobre os vencedores da Mostra Competitiva do 51o Festival de Brasília chega um tanto atrasado. Em parte, pelo tempo exíguo entre a premiação e o retorno ao lar, no dia seguinte, recomeçando a rotina de trabalhos pendentes; mas também, para evitar escrever "no calor da hora" e, de repente, ser injusta com certos filmes premiados ou mesmo com o júri oficial.

Praticamente, só assisti aos longas e curtas da Mostra Competitiva, abrindo espaço apenas para dois filmes da Paralela: os documentários "Fabiana" de Brunna Laboissière e "Humberto Mauro" de André di Mauro. Ambos, por sinal, bem realizados e merecem uma conferida quando entrarem em circuito.

Quanto aos vencedores dos Candangos, nas principais categorias, prefiro evitar comentários mais extensos e apostar na precisão cirúrgica. Vamos lá:

De uma forma geral, achei as escolhas do Júri Oficial de Curta-metragem (Cristina Amaral, Juliana Rojas, Marcelo Lordello, Naná Baptista e Rafael Urban)  mais coerentes que as do Júri Oficial de Longa-metragem (Ismail Xavier, Sylvio Back, Ítala Nandi, Dácia Ibiapina, Humberto Carrão, Hernani Heffner e Sabrina Fidalgo) ainda assim, a opção de premiar "Conte Isso Àqueles que Dizem que Fomos Derrotado" como melhor curta, ao invés de "Guaxuma", surpreendeu a todos.

No conjunto da obra, o curta de animação de Nara Normande era o melhor dos concorrentes- ganhou apenas três Candangos (Direção, Direção de Arte e Trilha Sonora)-, mas parece que os jurados não quiseram laurear o vencedor do Festival de Gramado esse ano, na categoria, preferindo o "cinema de borda", tendo como tema as ocupações de movimentos de sem teto, ao invés do apuro técnico e o lirismo da animação pernambucana.

O segundo curta-metragem mais premiado foi "Mesmo Com Tanta agonia" de Alice Drummond. a produção paulista venceu nas categorias Melhor Atriz (Maria Leite), Melhor Fotografia (Anna Santos) e menção Honrosa atriz Coadjuvante (Rillary Rihanna Guedes). Prêmios mais que merecidos para uma narrativa instigante, crítica e reflexiva sobre a sociedade de consumo.

Outro filme que merece destaque é o pernambucano "Reforma" de Fábio Leal. O diretor que também atua no curta, traz uma reflexão sobre a não aceitação de corpos gordos no meio gay. Seu personagem está atrás de um namorado, mas percebe que os garotos com quem relaciona, não curtem de verdade seu biotipo. O filme é ousado em alguns momentos, por conta de cenas de sexo mais tórridas (nada gratuitas), pois as cenas são coerentes com a história contada. Está longe de chocar por chocar.

Fechando a lista de premiados, na categoria de curtas, temos a comédia "Plano Controle" de juliana Antunes. Ganhou, merecidamente, os prêmios de Melhor ator Coadjuvante (Uirá dos reis) e Melhor Montagem. O filme mostra a versatilidade da jovem diretora mineira, que estreou sua carreira em longas, com o premiado "Baronesa".

A Mostra Competitiva de longa-metragem, ao meu ver, tiveram alguns prêmios equivocados. O Candango de Melhor Fotografia deveria ter ido parar nas mãos de Sofia Oggioni pelo seu deslumbrante trabalho em "Los Silencios". Já a Direção de Arte, penso que a mais bem trabalhada foi a de "Luna, assinada por Maíra Mesquita ou mesmo a de "A Sombra do Pai" de Valdy Lopez Jr. Ambos os prêmios foram para "Temporada" que ainda ganhou os Candangos de Melhor Filme, Atriz (Grace Passô) e Ator Coadjuvante (Russão). 

Há de se destacar também a atuação da atriz estreante Eduarda Fernandes, protagonista de "Luna. Seria merecidíssimo se ela ganhasse também o Candango de Melhor Atriz junto com a conterrânea mineira Grace Passô. Lamento, que festivais tradicionais como o de Brasília não exercitem a divisão de prêmios. Quanto à categoria de Melhor Ator, reconheço que Aldri Anunciação esteja bem no filme "Ilha", mas a cena "oscarizável" (ops!)- aquele plano-sequência, em que ele canta "Clube da Esquina II"- não é páreo para todo o trabalho corporal e do olhar de Júlio Machado em "A Sombra do Pai". Será que o problema é sua gradual transformação em um zumbi ?

Prêmios justíssimos para Ator e Atriz Coadjuvante, respectivamente, para Russão ("Temporada") e Luciana Paes ("A Sombra do Pai"). Esse segundo longa de Gabriela Amaral também conquistou o prêmio de Melhor Som e Melhor Montagem. Eu achava que a Trilha Sonora de Rafael Cavalcanti, neste filme, também seria contemplada com o Candango, mas aí, o Júri surpreendeu novamente, optando por premiar "Bixa Travesty", cuja trilha faz-se presente a partir dos trechos de shows da protagonista Linn da Quebrada. O documentário de Kiko Goifmann e Claudia Priscilla também foi laureado como Melhor Filme pelo Júri Popular e a dupla Linn da Quebrada e Jup do Bairro foram homenageadas com uma Menção Honrosa pelo Júri Oficial. 

"Torre das Donzelas" que provocou comoção no público no primeiro dia de competitiva, ia sair do 51o Festival de Brasília sem prêmios. O Júri, então, achou de contemplá-lo com um Prêmio Especial. É um filme que tem sua inegável força, concentrada nos depoimentos das ex-presas políticas, mas dividiu opiniões dos críticos, quanto à sua encenação.

Talvez, o prêmio mais esdrúxulo tenha sido o de melhor roteiro para "Ilha". Será que a metalinguagem foi suficiente para "encantar" todo o corpo de jurados ? Fico pensando em que patamar está o roteiro de "Los Silencios", "Temporada", "Luna" e "A Sombra do Pai". 


Mostra Competitiva
Longa-metragem
Melhor Filme: "Temporada"
Melhor Direção: Beatriz Seigner ("Los Silencios")
Melhor Ator: Aldri Anunciação ("Ilha")
Melhor Atriz: Grace Passô ("Temporada")
Melhor ator Coadjuvante: Russão ("Temporada")
Melhor Atriz Coadjuvante: Luciana Paes ("A Sombra do Pai")
Melhor Roteiro: Ilha ("Ilha")
Melhor Direção de Fotografia: Wilsa Esser ("Temporada")
Melhor Direção de arte: Diogo Hayashi ("Temporada")
Melhor Trilha Sonora: Bixa Travesty
Melhor Som: Gabriela Cunha ("A Sombra do Pai")
Melhor Montagem:  Karen Akerman ("A Sombra do Pai")
Júri Popular
"Bixa Travesty"
Prêmio especial do Júri
"Torre das Donzelas"
Menção Honrosa do Júri
Bixa Travesty (pelo posicionamento e impactante apresentação de Linn da Quebrada e Jup do Bairro)
Curta-metragem
Melhor Filme: "Conte Isso Àqueles Que Dizem que Fomos Derrotados"
Melhor Direção: Nara Normande ("Guaxuma")
Melhor Ator: Fábio Leal ("Reforma")
Melhor Atriz: Maria Leite ("Mesmo Com Tanta Agonia")
Melhor Ator Coadjuvante: Uirá dos Reis ("Plano de Controle")
Melhor Atriz Coadjuvante: Noemia Oliveira ("Eu, Minha Mãe e Wallace")
Melhor Roteiro: "Reforma"
Melhor Fotografia: Anna Santos "(Mesmo Com Tanta Agonia")
Melhor Direção de Arte: Nara Normande ("Guaxuma")
Melhor Trilha Sonora: Normand Roger ("Guaxuma")
Melhor Som: Nicolau Domingues ("Conte Isso àqueles que Fomos Derrotados")
Melhor Montagem: Gabriel Martins e Luisa Lana ("Plano de Controle")
Menção Honrosa de Atriz Coadjuvante: Rillary Guedes ("Mesmo Com Tanta Agonia")

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