domingo, 2 de setembro de 2018

O Menino, a Neve e o Sonho


Takara não desiste de seu sonho


Em 2016, o diretor francês Damien Manivel lançou o intrigante "O Parque", onde acompanhamos o passeio de um casal de namorados no referido espaço verde do título. Ao longo de 70 minutos, Manivel exercita seu talento de instigar o espectador, construindo uma atmosfera de apreensão, através de pouca ação, diálogos banais e interpretações um tanto forçadas. O resultado é, surpreendentemente, interessante, sobretudo pela virada sofrida na história, no seu terço final 

Agora, seu trabalho mais recente- "Takara- a Noite em que Nadei-", pode ser visto no Cinema Vitória. Na co-produção franco-nipônica, em que dividiu a direção com Kohei Igarashi, o minimalismo que é peculiar a Manivel ganha contornos mais radicais: nenhum diálogo é dito nos 83 minutos de duração. Apenas seguimos os passos do garoto Takara (Takara Kogawa), com aproximadamente seis anos, que após uma noite insone, desvia o seu trajeto a caminho da escola, na manhã seguinte.

Numa cidade no interior do Japão, num rigoroso inverno, o pequeno Takara perambula pela neve alta, munido apenas de sua mochila e de um desenho, feito por ele, em que se vê um peixe, um homem  e o mar. Enquanto Takara sabe exatamente onde quer chegar -ainda que o melhor trajeto para alcançar seu destino, seja um tanto incerto-, resta ao espectador um pouco de paciência para entender, de fato, qual o objetivo de sua jornada.

Os diretores não têm pressa. Assumem o risco oferecendo ao público um cinema contemplativo, sensorial (reparem no apuro da mixagem de som), onde, paulatinamente, a natureza vai se impondo como um grande obstáculo ao frágil protagonista. O misto de ingenuidade e determinação de Takara, talvez, seja o grande trunfo do filme que para além de acompanhar a busca do protagonista, não deixa de fazer uma crítica à incomunicabilidade da sociedade contemporânea e ao distanciamento entre pais e filhos, muitas vezes imposto pelo trabalho.

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