sexta-feira, 21 de setembro de 2018

51o Festival de Brasília (Quinto Dia)- "Bloqueio"

Foi exibido na última terça-feira, um dos filmes mais esperados da Mostra Competitiva de longas-metragens: o documentário "Bloqueio". A expectativa deu-se pelo fato do longa, de 75 minutos, registrar parte da Greve dos Caminhoneiros, que atingiu 24 Estados brasileiros, entre os dias 21 e 31 de maio.

Assim que a paralisação começou a avançar pelas cinco regiões do país e a provocar desabastecimento gradativo em várias localidades, a jornalista e documentarista Victória Álvares e o diretor Quentin Delaroche ("Camocim"), moradores da capital carioca, caíram na estrada e foram em direção ao município de Seropédica, parando na BR-116, no trecho entre o Rio de Janeiro e São Paulo, mais conhecido como Via Dutra.

Os diretores ficaram nas imediações de um posto de gasolina durante três dias e filmaram pouco mais de nove horas do evento. A urgência em registrar a maior greve da categoria, na história do Brasil, sem um roteiro pré-estabelecido, gerou um documentário do tipo observativo, onde a dupla pouco ou quase nada interviu no andamento das ações dos motoristas de caminhões e de outros manifestantes, optando pela captura espontânea do que flagrou no local.

O resultado é instigante, por vezes, chocante. Isso porque, a partir do discurso dos grevistas, percebe-se o quanto temos ainda que avançar no quesito educação, projetos sociais, equidade de classes. O discurso de que o atual governo tem que cair, para ser "salvo" pelos militares, é o dominante na tela.  Pouco se fala da lista de reivindicações que incluía a redução do preço do diesel, o fim da cobrança do eixo suspenso e o fim do PIS/Cofins sobre o diesel. Há vozes isoladas, no filme, que defendiam o governo petista, anterior ao impeachment de Dilma Rousseff, mas os registros são tão raros, que o público tende a pensar que a ala direitista foi privilegiada em detrimento da esquerdista por Álvares e Delaroche.

O que vemos, nada mais é do que estava lá. Grupos evangélicos dando assistência aos grevistas, seja no plano espiritual ou material; o corporativismo da classe, que fica mais evidente quando chegam as tropas do exército e a polícia rodoviária federal para dispersar os grevistas; a ausência de representantes da base da esquerda, a fim de ouvir as demandas da classe trabalhadora (exceto os dois professores que fazem o contraponto com a maioria dos que manifestam sua opinião). 

A chegada desses dois personagens, inclusive, cria um momento de tensão entre alguns grevistas, pois eles sentem-se ameaçados com as vozes dissonantes. É um dos pontos altos do filme, bem como a ação dos agentes da Polícia Rodoviária Federal quando vão registrar as placas dos caminhões estacionados nas imediações do posto de gasolina.

"Bloqueio" caracteriza-se como um cinema de guerrilha (baixíssimo orçamento), realizado de forma rápida, que por conta da curadoria do 51o Festival de Brasília, pode ser exibido quatro meses depois de filmado. Ainda que não tenha respostas para muitas questões, o filme serve de alerta para a falta de entendimento de uma parcela da população trabalhadora, sobre as mazelas da Ditadura Militar. Há muito o que melhorar no país e só nos resta acreditar que o lado contrário ao pensamento dessa massa,  presente no documentário, faça a diferença nas próximas eleições. Intervenção Militar Jamais!!

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