sexta-feira, 21 de setembro de 2018

51o Festival de Brasília (Sexto Dia)- "Ilha"

Ary Rosa e Glenda Nicácio estrearam na direção de longa-metragem, com o filme "Café com Canela", vencedor do prêmio de Melhor Filme pelo Júri Popular e Melhor Atriz, no Festival de Brasília de 2017. Esse ano, a dupla baiana voltou à Mostra Competitiva com o filme "Ilha", em que o fazer cinematográfico se impõe como força propulsora da narrativa.

Numa ilha de pescadores (as filmagens foram realizadas em Ilha Grande-BA), o nativo Emerson (Renan Motta) sequestra o cineasta Henrique (Aldri Anunciação) com o intuito deste rodar seu filme. Amarrado e encapuzado, Henrique demora para entender o que está acontecendo com ele e onde se encontra, mas se num primeiro momento, nega veementemente a sua participação no projeto cinematográfico do sequestrador, a partir das ameaças feitas, "cede" ao trabalho imposto por Emerson. 

A partir dessa premissa, os diretores escolhem o caminho da metalinguagem para discutir política, relação homoafetiva, violência doméstica, representatividade negra, entre outros temas. Não esquecem, porém, de nos lembrar constantemente, de que ali, está se experimentando o fazer cinema, rompendo com a linguagem clássica e se arriscando num terreno cheio de armadilhas estéticas, gerando, por vezes, um certo maneirismo da câmera. 

Uma cena que funciona, sobremaneira, é o plano-sequência em que Henrique, acompanhado apenas do violão, entoa "Clube da Esquina II" (Milton Nascimento/Lô Borges e Márcio Borges) sob um close up bem acertado. Já a cena de sexo entre os protagonistas funciona sob o ponto de vista do olhar, mas carece de cuidado na verossimilhança, devido à rapidez do ato e a sua incompletude. O maneirismo da câmera faz-se presente na cena em que Emerson, numa espécie de transe, gira e rola pelo chão de uma casa semi-demolida.

É evidente o desejo de Rosa e Nicácio de questionar o fazer cinema preso aos cânones e ao academicismo. Às vezes, funciona, outras vezes, soa esnobe. É um cinema de risco, que causa estranhamento até mesmo para o adeptos a radicalismos estéticos, mas os diretores estavam dispostos a apostar nesse risco e se expõem como artistas autorias. Resta saber como "Ilha" foi interpretado pelo público e pelo júri oficial do festival, deixando em aberto, a possibilidade de um êxito, como aconteceu como "Café com Canela", no ano passado ou um tremendo fracasso.

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