terça-feira, 18 de setembro de 2018

51o Festival de Brasília (Terceiro Dia)- "New Life S.A."

Demorei para escrever sobre o 3o dia de programação de Mostra Competitiva, do 51o Fest Brasília, porque ainda estava digerindo o filme "New Life S.A." do brasiliense André Carvalheira. É bom que se diga, que a Mostra Competitiva de Curta, ocorre pouco antes da exibição dos longas concorrentes, mas ainda não vi nada dessa categoria que merecesse uma linhas por aqui. Até agora, foram exibidos "Boca de Loba" de Bárbara Cabeça; "Kairo" de Fabio Rodrigo; "Liberdade" de Pedro Nishi e Vinícius Silva; "Sempre Verei Cores no Seu Cinza" de Anabela Roque.

Voltando ao longa-metragem de Carvalheira, apesar de ser um experiente diretor de fotografia, não conseguiu obter êxito na sua primeira investida na direção de um longa-metragem. Isso porque, o diretor usou como referência para criar sua pseudo produção surrealista, o cinema do mestre Luis Buñuel, mas sem o talento do mesmo, para construir sátiras ao estilo de "O Discreto Charme da Burguesia",  seu "New Life S.A." aproxima-se mais de um realismo grotesco.

No início, o filme parece querer flertar com o humor, quando vemos um político gravando dentro de um carro, sua propaganda eleitoral. O personagem é uma caricatura do que vemos, diariamente, no horário eleitoral gratuito. No entanto, à medida que a narrativa vai se desenvolvendo, deparamo-nos com situações tão bizarras- como a cena da família "new life", conceito de família ideal encenada por atores num stand de vendas imobiliário- intercaladas com uma tentativa de dramatização- quando um dos operários sofre um acidente- que o espectador, ao invés de embarcar na trama, tende a rejeitá-la.

O arquiteto Augusto (Renan Rovida) trabalha para uma construtora que está erguendo um empreendimento imobiliário numa área ambiental. Em frente à obra há uma ocupação de moradores sem teto e, obviamente, o dono da construtora pretende "limpar" a área para ampliar o negócio e obter mais lucro. Augusto, um homem de boa índole, opõe-se a qualquer violência contra a comunidade, porém é mais um empregado, sem ter poder de decisão.

Se os problemas no trabalho já são preocupantes, em casa, a situação ainda é pior: o casamento está por um fio, com a mulher mergulhada num estado de depressão (pós-parto ?), sem querer cuidar do filho de poucos meses e o casal sem ter muito o que dialogar. Augusto, então, mergulha  no trabalho, sem se dar conta com as consequências nefastas que isso pode gerar. A princípio resistente, o arquiteto, gradativamente, vai se contaminando com as mazelas inerentes ao esquema que toma conta do país, envolvendo políticos, grandes empresários e o judiciário.

Se "New Life S.A." pretendia ser uma sátira da burguesia brasileira, não conseguiu alcançar o resultado, satisfatoriamente. Ora pela escolha de personagens e situações estereotipadas- como a venda de armas no subterrâneo para políticos e empresários-, ora pela opção de uma narrativa fragmentada por esquetes, ou ainda pela exposição de situações inaceitáveis, como o estupro da esposa por Augusto ou a cena final que fica no meio do caminho entre um exercício motivacional e um ato de incitação à violência.

Em tempos nefastos, o filme pode ser levado a sério demais, por parte da plateia, alcançado um resultado inverso ao pretendido. O tiro parece que saiu pela culatra!! 

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