quarta-feira, 19 de setembro de 2018

51o Festival de Brasília (Quarto Dia)- "Luna"

Luna_http://bangalocult.blogspot.com
Cena de "Luna" de Cris Azzi 

Luna_foto Suyene Correia_http://bangalocult.blogspot.com
Ana Clara Ligeiro, Eduarda Fernandes e Cris Azzi no debate sobre "Luna"

Depois de "Torre das Donzelas", exibido no primeiro dia de competição do 51o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, outro filme que provocou reações extremamente positivas da plateia, foi "Luna" de Cris Azzi. Primeiro longa-metragem de ficção do diretor mineiro, "Luna" aborda um tema que está na ordem do dia: o vazamento de vídeos, nas redes sociais, com conteúdo erótico envolvendo adolescentes, que terminam sendo vítimas de bullying pelos colegas.

Outro filme recente, da safra brasileira com temática similar, é "Ferrugem" do Aly Muritiba, que venceu os prêmios de Melhor Filme e Melhor Roteiro no último Festival de Gramado. Ao contrário, porém, do ponto de vista escolhido pelo cineasta paranaense, além da maneira como conclui a narrativa, Azzi conduz "Luna" para um outro caminho, atravessando um período da adolescência da protagonista, onde sua vida será tomada por um turbilhão de situações e questões, sendo o bullying um motor dramático.

A história se passa na Grande BH, em Nova Lima (a maioria do filme teve como locação o Jardim Canadá), onde Luana "Luna" (Eduarda Fernandes) vive com sua mãe (Lira Ribas). Com uma certa popularidade, por conta dos brigadeiros que comercializa na escola, Luna vê sua curiosidade aguçada com a chegada de uma nova aluna, a reservada Emília (Ana Clara Ligeiro). O fascínio que desenvolve pela garota de cabelos curtos, descoloridos, segue um crescente. Não tarda, Luna vê-se atraída sexualmente por Emília que, percebendo a intenção da colega, convida-a a participar de jogos eróticos, via stripchats.

Emília grava uma dessas performances de Luna e envia-lhe por whatsapp. A ação é de perigo iminente e como no prólogo do filme vemos os colegas de sala de Luna, compartilhando o vídeo entre amigos, sabemos que o vazamento é uma questão de tempo. Mas quem o divulgará e por quê ? Não só, é surpreendente a autoria da ação, como a reação de Luna ao bullying. Esse é o grande trunfo que Cris Azzi tem na manga: o domínio da dramaturgia. No roteiro, de sua autoria, ele traça um caminho labiríntico, para que o espectador percorra, até encontrar a resposta para suas dúvidas, alcançando um final poderoso. 

Porém, isso não se sustentaria, se não fosse a dupla de atrizes protagonistas. Estreantes no cinema, Ana Clara Ligeiro (23 anos) e Eduarda Fernandes (20) são alunas de teatro no Centro de Formação Artística/Palácio das Artes (Cefar), em Belo Horizonte, há pouco mais de um ano. É espantosa a atuação de ambas, tendo em vista a desenvoltura nas cenas de nudez, sexo, além da potência dramática exigida em certas sequências (as cenas de desespero de Luna).

Segundo Cris Azzi, o resultado alcançado foi fruto de muita conversa com as meninas, na fase de pré-produção, com a preparação de elenco, ensaios e muito diálogo com ele e o diretor de fotografia, Luís Abramo. "Já nos ensaios, apresentamos a câmera para elas, a fim de quebrar com aquela barreira normal, que se forma no set, no período de filmagem. Há cenas em que o Luís colocava a câmera muito próximo dos rostos da Ana e da Eduarda e elas precisavam se familiarizar com esse processo. O roteiro também contou com uma colaboração das meninas. Muitas falas que ouvimos no filme, são de autoria delas. Faltando uma semana para o inicio das filmagens, o roteiro foi revisitado", explica.

Além disso, diariamente, após um dia de filmagem, Cris Azzi refletia sobre as imagens captadas nas cenas do dia. Foi esse exercício que proporcionou repetições de takes e correções. Um exemplo disso, foi a repetição da cena em que Luana dança para Emília diante de uma webcam. "Optamos por repeti-la com o plano mais fechado", diz Azzi.
O filme também ganha força nas cenas performáticas de Luana (reais ou delirantes) em que são usadas máscaras confeccionadas pela diretora de arte Maíra Mesquita. O talento da diretora de arte também perpassa pela idealização de certos ambientes (local da festa noturna, o quarto de Luana), aliado ao figurino de Caroleta Maurício.

Ainda que certos temas sejam apresentados, mas não desenvolvidos profundamente (poliamor, tentativa de estupro) "Luna" traduz-se como um filme edificante em torno de temas urgentes como sororidade e empoderamento feminino. Por conta do viés político do Festival de Brasília, torna-se um forte candidato a levar alguns candangos para casa. Aguardemos!!

Um comentário:

Unknown disse...

Fiquei curiosa para ver o filme depois dos seus comentários.