segunda-feira, 19 de setembro de 2011

"Riscado" é o grande vencedor do Curta-SE 11


“Você quer uma bolsa ?”, perguntou em tom de brincadeira  o ator Flávio Bauraqui, um dos apresentadores da cerimônia de encerramento do Curta-SE 11, ao produtor Cavi Borges, que já estava “sem mãos” para segurar tanto prêmio. O filme “Riscado” produzido pela sua produtora, Cavi Vídeo, foi o grande vencedor da 11ª edição do Festival Iberoamericano de Cinema de Sergipe (Curta-SE), encerrada na noite do último sábado, abocanhando quatro prêmios (Melhor longa-metragem, Melhor atriz e Melhor diretor pelo Júri Oficial e Melhor longa-metragem pelo Júri Popular).

O produtor, que no ano passado participou do evento, com o filme “Vida de Balconista” que dirige juntamente com Pedro Monteiro, disse durante os agradecimentos que “Riscado’ é um trabalho conjunto de amigos e familiares, realizado com pouquíssimos recursos e o reconhecimento do festival garantirá que novos filmes da produtora possam ser realizados com mais qualidade técnica e de conteúdo”.

Cavi enfatizou também o trabalho visceral da atriz Karine Teles, que além de interpretar a personagem Bianca, divide a autoria do roteiro, com o diretor Gustavo Pizzi. Ambos também foram premiados no último Festival de Gramado nas categorias Melhor direção, atriz e roteiro.

Mas o Júri Oficial de Longa-metragem, formado pelos jornalistas Amilton Pinheiro e Clarissa Kuschnir e pela produtora Isabelle Cabral, não teve tanta facilidade assim, para chegar ao resultado final. Depois de muita discussão decidiram premiar também como Melhor filme “A Terra da Lua Partida”, o documentário de Marcos Negrão e André Rangel, que mostra o drama de Sonam, um himalaio às voltas com as drásticas mudanças climáticas ocorridas em sua terra natal.

O trio de jurados preferiu substituir o prêmio de Melhor ator para uma Menção Honrosa.  A produção portuguesa  “Luz Teimosa” de Luís Alves de Matos saiu laureada com a Menção Honrosa, ao enfocar o trabalho artístico do poeta e fotógrafo Fernando Lemos.

A categoria de Curtas 35 mm Iberoamericanos parece não ter dado muito trabalho ao Júri Oficial formado pelos produtores Itamar Borges e Rafael Sampaio e à jornalista Maria do Rosário Caetano. Foi a mostra competitiva que contou com o maior número de premiados, em diversas categorias, mas que primou pela distribuição justa, tendo em vista o alto nível das produções.

“A Mula Teimosa e o Controle Remoto” de Hélio Villela Nunes foi o grande vencedor da categoria. Venceu como Melhor Filme pelo Júri Oficial e o garoto Viny Azar dividiu o Troféu Ver ou Não Ver na categoria  Melhor ator com Osvaldo Rosa de “Solene Simpatia”.

O Melhor filme de ficção foi “Eu Não Quero Voltar Sozinho” de Daniel Ribeiro que trata com delicadeza sobre o despertar da sexualidade na adolescência, de um garoto cego. O prêmio de  Melhor documentário da categoria ficou com o engenhoso “A Dama de Peixoto” de Douglas Soares e Allan Ribeiro, enquanto que a Melhor animação escolhida foi o belo e triste “O Céu no Andar de Baixo” do mineiro Leonardo Cata Preta. Este último também laureado com o Prêmio Porta-curtas.

O diretor pernambucano Marcos Enrique Lopes, que recebeu Menção Honrosa na 2ª edição do Curta-SE, em 2001, pelo documentário “A Composição do Vazio” sobre o filósofo Evaldo Coutinho, depois de 10 anos volta a participar do evento e sai com o Prêmio BNB (R$ 5 mil) na categoria Melhor Filme com Temática Nordestina, com o curta “Janela Molhada” que foca a questão da preservação de acervos e recuperação de películas antigas através do método Janela Molhada.

Já a ficção “Lápis de Cor” de Alice Gomes saiu com dois prêmios: Melhor Curta 35mm pelo Júri Popular e Menção Honrosa concedido pelo Júri Oficial também para os filmes “Naiá e a Lua” de Leandro Tadashi e  o divertido “Procura-se” de Iberê Carvalho.

O filme espanhol “Dulce” de Ivan Ruiz Flores levou para o outro lado do Atlântico o Troféu Ver ou Não Ver de Melhor Atriz para a garota de 10 anos, Miriam Martins. O Júri Oficial ainda concedeu uma Menção Especial ao curta experimental “Mantegna” de Melo Viana.

Vídeos Premiados- Foram três mostras que contemplaram filmes realizados no formato vídeo. A primeira, Vídeo de Bolso, teve como vencedor escolhido pelo Júri Popular o filme “Saltos Amazônicos” de Liana Amin e Igor Amin. Na categoria Vídeo Iberoamericano, o Rio Grande do Sul foi o Estado com maior número de premiados: quatro ao todo. Os jurados André Rezende, Marcela Lomas e Sandra Costa escolheram como Melhor Vídeo o filme “Traz Outro Amigo Também” de Frederico Cabral, que também foi o escolhido do Júri Popular.

“Trocam-se Bolinhos por Histórias de Vida” de Denise Marchir ficou com o Troféu Ver ou Não Ver de Melhor ficção; “Involução” de Marcelo Tannure levou pra casa o Troféu de Melhor animação e “Os Últimos Charruas” de Alice Urbim foi escolhido como Melhor documentário.

Talvez a categoria mais sacrificante  tenha sido a de Vídeo Sergipano. Os jurados Carla Osório, José Agripino e Sérgio Mello devem ter “queimado” muitos neurônios para chegar ao resultado final dos melhores desta categoria, tendo em vista o baixo nível de qualidade técnica dos mesmos. Excetuando o vencedor da categoria  “Do Outro Lado do Rio”, realizado por alunos do Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira- que longe de ser uma obra-prima, era o melhor dos concorrentes- os outros nove selecionados eram sofríveis.

Para minha surpresa, o Júri Oficial concedeu o segundo lugar a “Xandrilá” de André Aragão, um misto piorado de “Bruna Surfistinha” e “Meu Nome Não é Johnny”. Ainda que conte com uma bela fotografia assinada por Arthur Pinto, o diretor não foi feliz na escolha dos atores e o roteiro é uma sucessão de clichês.

O terceiro colocado foi para “Simbolique” de Jamson Madureira e o Júri Oficial concedeu Menção Honrosa ao curta “Peregrino” de Josivaldo Oliveira Silva. O Júri Popular escolheu “Lembranças” de Marlon Delano como o melhor da categoria.

Ao contrário do que se podia imaginar, a qualidade dos filmes sergipanos inscritos decaiu em relação às edições anteriores do festival, comprovando que não adianta ter equipamento mais acessível (uma câmera na mão) se não existe nada na cabeça. O Curta-SE, por sua vez, deveria  rever os critérios de seleção para esta categoria, uma vez que só deveria ser exibido na telona, filmes que tivessem um mínimo de qualidade técnica, na direção e no roteiro. O que não dá para entender é como filmes de cachorro “sonhador” e enxertos de vídeos de casamento mal editados possam perfilar como filmes concorrentes de um festival de cinema da categoria do Curta-SE.

Por falar em categoria, o melhor filme sergipano “Mulheres Mangabeiras” de Rita Simone foi exibido na noite de encerramento fora de competição. Infelizmente, o filme não foi finalizado a tempo de ser inscrito na categoria. Uma pena, pois o vídeo emociona ao mostrar a luta das catadoras de mangaba para que a tradição não seja extinta. Muitas delas, inclusive, prestigiaram a primeira exibição pública do filme no Cinemark Jardins.

O filme “O Jardim das Folhas Sagradas” de Pola Ribeiro também foi exibido fora de competição. Mas isso, já é outra história. Agora, é esperar o festival do ano que vem e torcer para que o vexame dessa edição, na categoria Vídeo Sergipano, seja dissipado.  


Fotos: Vinícius Fontes

Legenda da Foto 1: Flávio Bauraqui e Andréa Villela mostraram ótima sintonia como mestres de cerimônia

Legenda da Foto 2:  "Mulheres Mangabeiras" de Rita Simone foi o melhor vídeo sergipano do festival. Pena que não participou da competitiva

Legenda da Foto 3: Alice Gomes ganhou dois prêmios pelo seu singelo curta "Lápis de Cor": Melhor Curta 35 mm Júri Popular  e Menção Honrosa concedido pelo Júri Oficial

Legenda da Foto 4: O mineiro Leonardo Cata Preta dirigiu "O Céu no Andar de Baixo", Melhor Curta 35 mm de Animação

Legenda da Foto 5: Marcos Enrique Lopes e a blogueira, minutos antes do filme do diretor -"Janela Molhada"- ser laureado com o Prêmio BNB -Melhor Curta de Temática Nordestina

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